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Srta. R.
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E porque leitor é assim, faz assim...
"É que eu sempre usei livro pra tudo...
Pra saber ler,
Pra altear pé de
mesa,
Pra aprender a usar
a imaginação,
Pra enfeitar sala,
quarto, a casa toda,
Pra ter companhia dia e noite,
Pra aprender a
escrever,
Pra sentar em cima,
Pra rir, pra gostar
de pensar,
Pra ter apoio num
papo,
Pra matar
pernilongo,
Pra travesseiro,
Pra chorar de
emoção,
Pra firmar
prateleiras,
Pra jogar na cabeça
do outro na hora da raiva,
Pra me-abraçar-com,
pra banquinho pro pé.
Eu sempre usei livro
pra tanta coisa, que a coisa que mais me espanta é ver gente vivendo sem
livro."
Um excelente dia
para vocês meus amigos!!
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Ela me olhou e disse: "Encontrei um lindo poema de Fernando Pessoa". Fiquei contente, porque gosto muito de Fernando Pessoa. Aí ela disse o primeiro verso. Fiquei mais contente ainda, porque era um poema que eu conhecia. Ato contínuo, ela abriu o livro e começou a ler. Epa! Senti-me mal. As palavras estavam certas. Mas ela tropeçava, parava onde não devia, não tinha ritmo nem música. Não, aquilo não era Fernando Pessoa, embora as palavras fossem suas.
Senti o mesmo que já sentira em audições de alunos
principiantes que, via de regra, são um sofrimento para os que ouvem, o maior
desejo sendo que a música chegue ao fim e que a aflição termine. Percebi,
então, que a arte de ler é exatamente igual à arte de tocar piano ou qualquer
outro instrumento.
Como é que se aprende a gostar de piano? O gostar começa pelo
ouvir. É preciso ouvir o piano bem tocado. Há dois tipos de pianistas. Alguns,
raros, como Nelson Freire, já nascem com o piano dentro deles. Eles e o piano
são uma coisa só. O piano é uma extensão dos seus corpos.
Outros, aos quais dou o nome de "pianeiros", são
como eu, que me esforcei sem sucesso para ser pianista (consolo-me pensando que
o mesmo aconteceu com Friedrich Nietzsche. Atreveu-se até mesmo a enviar
algumas de suas composições ao famoso pianista Hans von Büllow, que as devolveu
com o conselho de que ele deveria se dedicar à filosofia).
Diferentemente dos pianistas, que nascem com o piano dentro
do corpo, os "pianeiros" têm o piano do lado de fora. Esforçam-se por
pôr o piano do lado de dentro, mas é inútil. As notas se aprendem, mas isso não
é o bastante. Os dedos esbarram, erram, tropeçam, e aquilo que deveria ser uma
experiência de prazer se transforma numa experiência de sofrimento não só para
quem ouve mas também para quem toca.
Um pianista, quando toca, não pensa nas notas. A partitura já
está dentro dele. Ele se encontra num estado de "possessão". Nem
pensa na técnica. A técnica ficou para trás, é um problema resolvido. Ele simplesmente
"surfa" sobre as teclas seguindo o movimento das ondas. Pois é
precisamente assim que se aprende o gosto pela leitura: ouvindo-se o artista —o
que lê— interpretar o texto.
Não estou usando a palavra "interpretar" no sentido
comum de dizer o que o autor queria dizer, mas não conseguiu, coisa que se
tenta fazer nas aulas de literatura (o que é que o autor queria dizer? Ele
queria dizer o que disse. Se quisesse dizer uma outra coisa, ele teria escrito
essa outra coisa). Estou usando "interpretar" no sentido artístico,
teatral. O "intérprete" é o possuído. É ele que faz viver — seja a
partitura musical silenciosa, seja o texto teatral ou poético, silencioso na
imobilidade da escrita.
Disse William Shakespeare no segundo ato de Hamlet: "Não
é incrível que um ator, por uma simples ficção, um sonho apaixonado, amolde
tanto a sua alma à imaginação que todo se lhe transfigura o semblante, por
completo o rosto lhe empalideça, lágrimas vertam dos seus olhos, suas palavras
tremam, e inteiro o seu organismo se acomode a essa mesma ficção?". Tenho
a impressão de que, se os jovens não gostam de ler, é porque não tiveram a
experiência de ouvir a leitura feita por um possuído.
Uma lembrança feliz que tenho do meu irmão Murilo, já
encantado, era que ele lia para mim, menino, livros de aventura:
"Náufragos de Bornéo", com um enorme gorila na capa,
"Prisioneiros dos Pampas", com dois homens lutando à faca na capa.
Isso aconteceu há 63 anos, e não esqueci. Ainda posso ouvir a sua voz possuída
pela emoção. É a experiência de ouvir que nos faz querer dominar a técnica da
leitura para poder penetrar na emoção do texto.
Há de se dominar a técnica da leitura da mesma forma que se
domina a técnica do piano. Acontece que o domínio da técnica é cansativo e
frequentemente aborrecido.
Antigamente, o aprendiz de piano tinha de gastar horas nos
monótonos exercícios de mecanismo do Hannon. Mas mesmo os grandes pianistas que
já dominaram a essência da técnica têm de gastar tempo e atenção debulhando as
passagens complicadas que não podem ser pensadas ao ser tocadas. Todo pianista
tem de dominar os estudos de Chopin, de dificuldades técnicas transcendentais,
maravilhosos.
Mas só têm paciência para suportar o aborrecimento da técnica
aqueles que foram fascinados pela beleza da música. Estuda-se a técnica por
amor à interpretação, que é o evento orgiástico de possessão.
Por isso eu tenho sugerido a escolas e prefeituras que
promovam "concertos de leitura" para seduzir os ouvintes à beleza da
leitura. Não custam nada. Uma única coisa é necessária: o artista, o
intérprete...
Um concerto de leitura poderia se organizar assim: primeira
parte, poemas da Adélia Prado (é impossível não gostar dela...); segunda parte,
"O Afogado Mais Lindo do Mundo", conto de Gabriel García Márquez; terceira
parte, haicais de Bashô. Acho que todo mundo gostaria e sairia decidido a
dominar a arte da leitura.
Rubem Alves
Colunista da Folha de S.Paulo
(Fonte: Folha de S.Paulo, caderno Sinapse, 17/03/2004)
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É muito bom quando alguém nos indica um bom filme, uma exposição
ou um livro que gostamos, não é? E quando a inspiração vem de um ídolo? Melhor
ainda!!! Pra mim, pensadores e artistas do rock são os mais inspiradores...
Pois bem, uma exposição sobre David Bowie está rolando lá fora e
os curadores da exposição “David Bowie is” publicaram uma lista com os 100
livros favoritos dele. Os mesmos definem o astro como uma mente enigmática e
leitor voraz!
Alguns títulos:
Laranja mecânica – Anthony Burgess;
Dentro da baleia e outros ensaios / 1984 –George Orwell;
Lolita – Vladimir Nabokov;
Na estrada – Jack Kerouac;
A sangue frio – Truman Capote;
A criação da juventude – Jon Savage;
O julgamento de Henri Kissinger – Christopher Hitchens;
Personas Sexuais / Arte e decadência de Nefertiti a
Emily Dlckinson – Camille Paglia;
Antes do dilúvio: um retrato da Berlim nos anos 20 –
Otto Friedrich...
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No Dia Nacional do Livro, uma campanha bonitinha da Gazeta do povo interessante para inspirar!
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5 LIVROS PERDIDOS QUE VOCÊ NUNCA PODERÁ LER
(Fonte: Universia Brasil - Divulgado por Eliane
Jovanovich – Postado no Facebook)
Conheça 5 livros que, embora tivessem potencial para se tornarem clássicos, nunca chegaram a ser publicados. São livros, rascunhos e manuscritos perdidos ao longo dos tempos.
Os grandes clássicos da literatura ganham esse título por não possuírem idade. Isso significa que eles são atuais em qualquer que seja a época em que são lidos. No entanto, nem todos os bons livros alcançam o status de clássico. São obras com grande potencial, mas que acabaram esquecidas e desaparecidas ao longo dos anos, que tiveram seus rascunhos e manuscritos perdidos. Confira uma lista com 5 dessas obras.
1. Os livros perdidos da Bíblia
A Bíblia, em sua
forma atual, nada mais é que o acordo canônico firmado entre a hierarquia
eclesiástica, no caso do cristianismo, durante o Conselho de Trento (1545 –
36). Entretanto, a estes textos “autênticos” se opõem os “livros apócrifos”.
Embora alguns destes tenham sido resgatados, grande parte deles se perdeu e
hoje são conhecidos apenas por alusão indireta como um grupo de vinte livros
irremediavelmente perdidos.
2. O encontro ignorado de Cervantes e Shakespeare
Trata-se de uma obra
que supostamente esteve baseada na tragédia que Cervantes conta durante o livro Dom
Quixote. Se o nome de Shakespeare, por si só, já impõe uma aura
de cobiça no objeto perdido, essa peça se encontra ainda mais sugestiva, uma
vez que nela se encontram, literariamente, dois dos escritores mais geniais de
todos os tempos.
3. Um cartógrafo e viajante antes do Mercator
Mercator tem fama de
ter traçado um dos primeiros mapas com projeção inovadora, que permitiu aos
viajantes, em especial os navegantes, alcançar suas metas com maior precisão. No entanto, antes
do cartógrafo flamenco se diz ter existido um monge que atravessou o oceano
Atlântico até alcançar o Pólo Norte, descrevendo com precisão a geografia
ártica em uma obra intitulada “Inventio Fortunata”, que poderia ser traduzido
como “O descobrimento das ilhas da Fortuna”. Porém, a precariedade dos recursos
empregados na confecção de livros no século XIV fez com que nenhuma das cinco
cópias do tratado sobrevivesse, nem mesmo a que o próprio monge entregou ao rei
Eduardo III, da Inglaterra.
4. O rascunho de O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde
Um dos episódios
mais emblemáticos da literatura moderna, a dissociação entre o ser humano e a
parte má que habita em qualquer um de nós, conheceu uma pré-versão. O autor da
obra, o novelista inglês Stevenson, a produziu como um relato, quando foi alvo
de um frenesi literário no qual escreveu cerca de 30.000 palavras em três dias.
No entanto, essa primeira versão foi entregue à sua esposa, para que ela
revisasse a obra. A mulher do autor, que não se sentiu convencida com a
produção, sugeriu a ele que desse um tom mais moral à história, o que fez com
que Stevenson jogasse o manuscrito às chamas.
5. A inestimável maleta de Ernest Hemingway
A incursão de
Hemingway em alguns dos conflitos armados mais cruciais do século 20 é bem
conhecida. No entanto, os relatos de fatos como as duas Guerras
Mundiais e a Guerra Civil Espanhola só foram possíveis
porque em 1922 sua esposa colocou em uma maleta centenas de manuscritos de
Hemingway, com fragmentos de romances e outras anotações. Essa mala foi roubada
ou perdida em uma rota ferroviária.
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"Quem muda o mundo são as pessoas. O livro muda as pessoas".
Pedro Bandeira
O dia 18 de abril foi instituído como o dia nacional da literatura infantil, em homenagem à Monteiro Lobato.
“Um país se faz com homens e com livros”. Essa frase criada por ele demonstra a valorização que dava à leitura e sua forte influência no mundo literário. Monteiro Lobato foi um dos maiores autores da literatura infanto-juvenil brasileira.
Assista aqui as palestras do ciclo de bate-papos Segundas Intenções, promovido pela SP Leituras, o escritor Pedro Bandeira na Biblioteca de São Paulo, com Pedro Bandeira, premiado e aclamado escritor brasileiro que é o autor de literatura juvenil que mais vende no Brasil.
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Fui longe, muito longe. Como há tempos não acontecia. Tive que pousar, assim é a vida. Mas não fui de avião!
Viajei léguas, fui a uma altura inenarrável. A respiração ainda está lenta, calma, esse é o estranho dessas sensações, elas não agitam, não preocupam... apesar de uma atividade emocional intensa todo o resto do mundo parece que pára!...
Quero calar! Não quero pronunciar uma palavra! Não quero deixar se esvair o último fôlego suspenso. Não falar nos afasta um pouco do real, da obrigatoriedade do sentido, do plausível, da matéria... Quero essa propulsão de ventos e vácuos dentro de mim que me deixou à deriva, esse êxtase no qual é tudo tão etéreo que chega a não existir... e passa tão depressa, tão efêmero como que querendo me provar que realmente não é.
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Orientação dos gatos
À Juan Soriano
Quando Alana e Osíris me olham, não posso me queixar da menor dissimulação, da menor falsidade. Olham-me de frente, Alana sua luz e Osíris seu raio verde. Também entre eles se olham assim, Alana acariciando o negro lombo de Osíris que levanta o focinho do prato de leite e mia satisfeito, mulher e gato conhecendo-se em planos que me escapam, que os meus carinhos não conseguem superar. Faz tempo que renunciei a toda autoridade sobre Osíris, somos bons amigos a uma distância intransponível; mas Alana é minha mulher e a distância entre nós é outra, algo que ela parece não sentir, mas que se interpõe em minha felicidade quando Alana me olha, quando me olha de frente como Osíris e me sorri ou me fala sem a menor reserva, dando-se em cada gesto e cada coisa como se dá no amor, ali onde seu corpo é como seus olhos, uma entrega absoluta, uma reciprocidade ininterrompida.
É estranho, embora tenha renunciado a entrar completamente no mundo de Osíris, meu amor por Alana não aceita essa simplicidade de coisa concluída, de casal para sempre, de vida sem segredos. Atrás desses olhos azuis há mais; no fundo das palavras e dos gemidos e dos silêncios, anima-se outro reino, respira outra Alana. Nunca disse isso a ela, quero-a demais para trincar essa superfície de felicidade pela qual já deslizaram tantos dias, tantos anos. A meu modo, teimo em compreender, em descobrir; observo-a sem espiá-la; sigo-a sem desconfiar; amo uma maravilhosa estátua mutilada, um texto inacabado, um fragmento de céu inscrito na janela da vida.
Houve um tempo em que a música me pareceu o caminho que me levaria de fato a Alana; vendo-a ouvir os nossos discos de Bartok, Duke Ellington, Gal Costa, uma transparência paulatina me afundava nela, a música a despia de uma maneira diferente, tornava-a cada vez mais Alana porque Alana não podia ser somente essa mulher que sempre tinha me olhado de frente sem me esconder nada. Contra Alana, mais além de Alana, eu a buscava para amá-la melhor; e se no começo a música me deixou entrever outras Alanas, chegou o dia em que, diante de uma gravura de Rembrandt, a vi mudar ainda mais, como se um jogo de nuvens no céu alterasse bruscamente as luzes e as sombras de uma paisagem. Senti que a pintura a levava para além de si mesma a esse único espectador que podia medir a instantânea metamorfose nunca repetida, a entrevisão de Alana em Alana. Intermediários involuntários, Keith Jarret, Beethoven e Anibal Troilo me haviam ajudado na aproximação, mas frente a um quadro ou a uma gravura Alana se despojava ainda mais disso que acreditava ser, por um momento entrava em um mundo imaginário para sem saber sair de si mesma, indo de uma pintura a outra, comentando-as ou se calando, jogo de cartas que cada nova contemplação embaralhava para aquele que, silencioso e atento, um pouco atrás ou levando-a pelo braço, via sucederem-se as rainhas e os ases, os ouros e os paus, Alana.
O que se podia fazer com Osíris? Dar-lhe leite, deixá-lo em seu negro novelo confortável e ronronante; mas eu podia trazer Alana a esta galeria como o fiz ontem, mais uma vez, para assistir a um teatro de espelho e câmaras escuras, de imagens tensas na tela frente a essa outra imagem de alegres jeans e blusa vermelha que depois de esmagar o cigarro â entrada ia de quadro em quadro, detendo-se exatamente â distância que seu olhar requeria, voltando-se para mim de quando em quando para comentar ou comparar. Jamais teria podido descobrir que eu não estava ali pelos quadros, que um pouco atrás ou de lado minha maneira de olhar nada tinha a ver com a dela. Jamais perceberia que sua lenta e reflexiva passagem de quadro em quadro a transformava até me obrigar a fechar os olhos e lutar para não apertá-la nos braços e levá-la ao delírio, a uma loucura de correr em plena rua. Desenvolta, leve em sua naturalidade de prazer e descoberta, suas paradas e demoras inscreviam-se em um tempo diferente do meu, estranho à tensa espera de minha sede.
Até então tudo tinha sido um vago aviso, Alana na música, Alana diante de Rembrandt. Mas agora minha esperança começava a se cumprir quase insuportavelmente, desde a nossa chegada Alana entregara-se às pinturas com uma cruel inocência de camaleão, passando de um estado a outro sem saber que um espectador escondido observava em sua atitude, na inclinação de sua cabeça, no movimento de suas mãos ou seus lábios, o cromatismo interior que a percorria até mostrá-la outra, ali onde a outra era sempre Alana somando-se a Alana, as cartas juntando-se até completar o baralho. A seu lado, avançando pouco a pouco ao longo das paredes da galeria, eu a via entregar-se a cada pintura, meus olhos multiplicavam um triângulo fulminante que se estendia dela ao quadro e do quadro a mim mesmo para voltar a ela e apreender a transformação, a auréola diferente que a envolvia um momento para depois ceder a uma nova aura, a uma tonalidade que a expunha à verdadeira, à última nudez. Impossível prever até onde se repetiria essa osmose, quantas novas Alanas me levariam por fim à síntese da qual sairíamos os dois saciados, ela sem sabê-lo e acendendo um novo cigarro antes de me pedir que a levasse a tomar um trago, eu sabendo que a minha longa busca chegara ao fim e que o meu amor abarcaria, a partir de agora, o visível e o invisível, aceitaria o límpido olhar de Alana sem incertezas de portas fechadas, de passagens vedadas.
Frente a um barco solitário e um primeiro plano de rochas negras, eu a vi permanecer imóvel longo tempo; um imperceptível ondular das mãos fazia-a como que nadar no espaço, buscar o mar aberto, uma fuga de horizontes. Eu não podia mais estranhar que essa outra pintura, onde uma cerca de agudas pontas vedava o acesso às árvores vizinhas, a fizesse retroceder como que buscando um ponto de mira, de repente era a repulsa, a recusa de um limite inaceitável. Pássaros, monstros marinhos, janelas dando-se ao silêncio ou deixando entrar um simulacro da morte, cada nova pintura arrasava Alana despojando-a de sua cor anterior, dela arrancando as modulações da liberdade, do vôo, dos grandes espaços, afirmando sua negativa diante da noite e do nada, sua ansiedade solar, seu quase terrível impulso de ave fênix. Permaneci atrás sabendo que não me seria possível suportar o seu olhar, a sua surpresa interrogativa quando visse em minha cara o deslumbramento' da confirmação, por que isso era também eu, isso era o meu projeto Alana, a minha vida Alana, isso tinha sido desejado por mim e refreado por um presente de cidade e moderação, isso agora afinal Alana, afinal Alana e eu desde agora, desde agora mesmo. Teria querido tê-la nua nos braços, amá-la de tal maneira que tudo ficasse claro, tudo ficasse dito para sempre entre nós, e que dessa interminável noite de amor, nós que já conhecíamos tantas, nascesse a primeira alvorada da vida.
Chegávamos ao final da galeria, aproximei-me da porta de saída ainda ocultando o rosto, esperando que o ar e as luzes da rua me fizessem voltar ao que Alana conhecia de mim. Eu a vi deter-se diante de um quadro que outros visitantes me haviam ocultado, ficar longamente imóvel olhando a pintura de uma janela e um gato. Uma última transformação fez dela uma lenta estátua nitidamente separada dos demais, de mim que me aproximava indeciso, procurando-lhe os olhos perdidos na tela. Vi que o gato era idêntico a Osíris e que olhava ao longe algo que a parede da janela não nos deixava ver. Imóvel em sua contemplação, parecia menos imóvel que a imobilidade de Alana. De algum modo senti que o triângulo se rompera, quando Alana virou para mim a cabeça o triângulo não mais existia, ela tinha ido até o quadro, mas não estava de volta, continuava do lado do gato olhando além da janela onde ninguém podia ver o que eles viam, o que somente Alana e Osíris viam cada vez que me olhavam de frente.
Júlio Cortázar
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"Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria."
Jorge Luis Borges
Todo nosso trabalho deve ser conferido diariamente, depois de passada uma noite!!!
Hoje, 14 de março, é Dia do Livreiro, ou Vendedor de Livros, como preferirem!!!
Não é uma graça?!?!? Acho mágico as pequenas coisas singelas e simples!!! Bibliotecas me encantam por sua vida, porque sim! bibliotecas são sempre cheias de vida apesar dos maledicentes e mau leitores não conseguirem enxergar!!!
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No mês de março é comemorado o Dia dos Bibliotecários!!! Por isso, resolvi fazer ao longo do mês vários posts sobre o assunto (como boa bibliotecária que sou!!!) rsrsrs...
Dia desses, navegando pelo blog Sentinela no Escuro, encontrei um post bem legal que conseguiu reunir os 10 bibliotecários que de alguma forma foram importantes para a história do mundo. Trata-se de uma lista de 25 personalidades recolhidas pelo site Online Best Colleges, eu fiz a minha lista e inclui um extra, o admirável Jorge Luis Borges. A lista além de interessante, é curiosa e pra mim foi reveladora!
1.Melvil Dewey: criador do Sistema Decimal de Dewey, Melvil Dewey nasceu em Nova Iorque em 1851. Enquanto estudante do Amherst College, teve que trabalhar na biblioteca escolar para custear suas despesas. Acabou por permanecer como bibliotecário após a graduação. Depois de experimentar diferentes métodos de catalogação e organização para bibliotecas, o Amherst College publicou sua obra “A Classification and Subject Index for Cataloguing and Arranging the Books and Pamphlets of a Library” (Classificação e índice de assuntos para catalogar e organizar os livros e folhetos da biblioteca). Dewey é conhecido como “O pai da biblioteconomia moderna” e ajudou até mesmo a criar a Associação de Bibliotecas Americanas (ALA) em 1876.
Dia desses, navegando pelo blog Sentinela no Escuro, encontrei um post bem legal que conseguiu reunir os 10 bibliotecários que de alguma forma foram importantes para a história do mundo. Trata-se de uma lista de 25 personalidades recolhidas pelo site Online Best Colleges, eu fiz a minha lista e inclui um extra, o admirável Jorge Luis Borges. A lista além de interessante, é curiosa e pra mim foi reveladora!
2.São Lourenço de Roma: como um dos santos padroeiros dos bibliotecários, São Lourenço foi um diácono católico morto pelos romanos em 258 d. C. por negar-se a entregar a coleção de tesouros e documentos do cristianismo os quais ele estava encarregado de guardar.
3.Mao Tse-tung: o homem responsável pela unificação da China durante as décadas de 1940 e 1950, quando foi formada a República Popular da China, era um bibliotecário. Em 1918, Mao era um jovem que viveu como um assistente de biblioteca na Universidade de Pequim. O bibliotecário chefe daquela universidade onde Mao trabalhava era marxista e teve êxito em arrastar Mao para o comunismo.
4.Giacomo Casanova: o infame espião, escritor, diplomata e amante nasceu em Veneza durante a primeira metade do século 18. Apesar de ter sido um seminarista na Universidade de Pádua e no Seminário de São Cipriano, Casanova é bem conhecido por ter sido um beberrão e por seus casos escandalosos com diversas mulheres. Passou seus últimos dias trabalhando como bibliotecário em Dux, na República Checa.
5.Papa Pio XI ou Achille Ratti: serviu a Igreja entre 1929-1939. Durante seu pontificado estabeleceu a Festa de Cristo Rei do Universo, além de ter pregado contra a injustiça social e as práticas de corrupção financeira. Antes de ter sido eleito, Ratti era um acadêmico e um bibliotecário. No Vaticano enquanto papa ficou conhecido por reorganizar os arquivos secretos.
6. J. Edgar Hoover : Como o lendário diretor do FBI, J. Edgar Hoover levou investigações domésticos de 1924-1972, como chefe do Bureau of Investigation e quando ele fundou o FBI em 1935. Em sua infância, no entanto, Hoover foi para escola à noite na Universidade George Washington e se sustentava trabalhando na Biblioteca do Congresso . Lá, ele era um mensageiro catalogador, e balconista. Em 1919, Hoover deixou a Biblioteca do Congresso e trabalhou como assessor especial do Procurador-Geral.
7.Lewis Carroll: autor de Alice no País das Maravilhas, seu nome verdadeiro era Charles Lutwidge Dodgson. Dodgson cresceu em Cheshire e Yorkshire, na Inglaterra. Após graduar-se em matemática em Oxford, tornou-se o bibliotecário auxiliar da Christ Church. Deixou este cargo em 1857 para tornar-se um conferencista de matemática. Dodgson contou a história de Alice pela primeira vez para as três filhas do Deão da Christ Church em 1862. O livro foi então publicado três anos depois e continua sendo um clássico até os dias de hoje.
8.Laura Bush: a ex-primeira dama conseguiu seu mestrado em Ciências bibliotecárias na Universidade do Texas em Austin depois de uma experiência como professora de primário. Como primeira dama do Texas, ela apoiou a campanha de George W. Bush e iniciou seus próprios projetos envolvendo educação e alfabetização. Quando seu marido tornou-se presidente dos Estados Unidos, Laura apoiou iniciativas de formação de bibliotecários e visitou diversas bibliotecas pelo mundo.
9.Marcel Proust: conhecido como um aclamado, crítico e obscuro romancista, Proust decidiu certa vez ir à escola para se tornar um bibliotecário. O escritor francês nasceu em 1871 e sua obra mais famosa Em busca do tempo perdido, continua a ser estudada nos dias de hoje.
10.Jacob Grimm: Os contos de fadas dos Grimm forma publicados pela primeira vez em 1812. Ainda hoje, as histórias de “João e Maria”, “Cinderela” e “A Branca de Neve” continuam sendo clássicos constantemente reinventados como peças teatrais, filmes da Disney e muito mais. Jacob Grimm trabalhou como bibliotecário em Kasel, após graduar-se em direito. Durante este período, Jacob e seu irmão Wilhelm reuniram contos folclóricos alemães que tratavam de cidadãos ansiosos que pretendiam unificar seus reinos tendo como base a cultura comum.
Extra. Jorge Luis Borges : Jorge Luis Borges é um escritor argentino que fez contribuições significativas para a literatura fantástica no século 20. Ele compartilhou o prêmio Formentor dos Editores Internacionais com Samuel Beckett e foi um bibliotecário municipal de 1939-1946 na Argentina, antes de ser demitido pelo regime Peron.Um de seus mais famosos contos, "A Biblioteca de Babel", descreve o universo como uma enorme biblioteca.
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![]() |
Livraria Lello e Irmão, Cidade do Porto, Portugal |
La escritura metódica me distrae de la presente condición de los hombres. La certidumbre de que todo está escrito, nos anula o nos afantasma. Yo conosco distritos en que los jóvenes se prosternan ante los libros y besan con barbarie las páginas, pero no saben descifrar una sola letra. Las epidemias, las discordias heréticas, las peregrinaciones que inevitablemente degenran en bandolerismo, han diezmado la población. Creo haber mencionado los suicídios, cada año más frecuentes. Quizá me engañen la vejez y el temor, pero sospecho que la especie humana - la única - está por extinguirse y que la Biblioteca perdurará: iluminada, solitaria, infinita, perfectamente inmóvel, armada de volúmenes preciosos, inútil, incorruptible, secreta.
![]() |
Livraria Lello e Irmão, cidade do Porto, Portugal |
Acabo de escribir infinita. No he interpolado ese adjetivo por una costumbre retórica; digo que no es ilógico pensar que el mundo es infinito. Quienes lo juzgan limitado, postulan que en lugares remotos los corredores y escaleras y hexágonos pueden inconcebiblemente cesar - lo cual es absurdo - . Quienes lo imaginan sin limites, olvidan que los tiene el número posible de libros. Yo me atrevo a insinuar esta solución del antiguo problema: La Biblioteca es ilimitada y periódica. Si un eterno viajero la atravesara en cualquier direción, comprobaria al cabo de los siglos que los mismos volúmenes se repiten en el mismo desorden (que, repetido, seria un orden: el Orden). Mi soledad se alegra con esa elegante esperanza.
Extraído de "Ficciones", de Jorge Luís Borges(1899-1986)
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Uma biblioteca e os anjos ajoelham No metrô, lia o jornal e pensava como é pequeno e pretensioso esse goleiro Rogério Ceni menosprezando a jogada de Robinho e o gol do Santos. Ele não viu mérito no Robinho, viu desatenção da sua zaga. Aliás, o Ceni poderia se aposentar com mais dignidade. Então, cheguei ao meu destino, Carandiru. Lá está a Biblioteca São Paulo. Muitos anos atrás, quando Maria do Rosário, minha mãe, mulher simples de Araraquara, exclamava ao saber que uma coisa boa tinha acontecido: "Os anjos estão ajoelhados." Na segunda-feira, quando saltei do metrô e atravessei a extensa e ensolarada Praça da Juventude, rumo à biblioteca, percebi que no céu os anjos estavam ajoelhados e provavelmente as 11 mil virgens também, agradecendo por mais uma biblioteca nesta cidade. Confesso que, além dessas legiões espirituais, também os escritores, professores, leitores estão agradecendo. Quem abre uma biblioteca deve receber indulgência plenária. Quantos ainda sabem o que são indulgências? Neste Brasil, onde livros custam caro, as bibliotecas são a solução. Na infância e juventude, tive a sorte de contar com duas. A do meu pai onde li de Quo Vadis a Os Sertões, de Robinson Crusoe a A Ilha do Tesouro, de O Rio de Janeiro do Meu Tempo, de Luiz Edmundo (e como eu gostava), a Ouro Sobre Azul, de Taunay. Também não me esqueço que li em "profundidade" Nossa Vida Sexual, de Fritz Khan, que meu pai escondia atrás dos livros. Depois, veio a fase da biblioteca municipal que tem o nome de Mário de Andrade. Almoçava, voava para a Prefeitura e me enfiava na mesa, devorando livros. Lemos, meu grupo e eu, tudo o que era legível. Depois, diversificamos. Hugo Fortes, que seria advogado, transitou pela Revista dos Tribunais, porque lá havia, sem que atinássemos com a razão, centenas de volumes. Sergio Fenerich circulou por dentro dos 116 volumes de Camilo Castelo Branco. Os livros de Jorge Amado ficavam trancados numa gaveta, menores não podiam levar, ler. Sei o que é uma biblioteca, sua aura, seu espírito. Eu me fiz dentro delas, muitas vezes lendo ao lado de Luis Roberto Salinas Fortes, Zé Celso, Marco Antonio Rocha, Wallace Leal ou Sidney Sanches que mais tarde foi desembargador e presidiu o Supremo Tribunal Federal. Coube a ele decretar o impeachment do Collor. Quem pode com Araraquara...? Que responda o Celso Lafer, que conhece como funcionam os tentáculos da cidade. Ou FHC, que levou a Ruth de lá. Na Biblioteca São Paulo, circulando pelo saguão tomado pela luz do sol (Viva! Uma biblioteca iluminada, ventilada, não soturna), antes de subir para a ala dos adultos, vi as fileiras de computadores e os montes de livros infantis ao alcance das mãos. E gibis, hoje histórias em quadrinhos. As crianças poderão agarrar, ler, olhar, mexer, virar, que livro é feito para ser manipulado, assim é que a gente se apaixona por objetos e pessoas. Tocando, cheirando, sentindo, deixando-se penetrar. Basta de bibliotecários proibindo, não mexa, não rasgue, não leve, não estrague, não deite no chão, não, não, não. Biblioteca é divertimento. Claro, alguns deveres, algum sentido de responsabilidade. Uma vez, décadas atrás, ao me separar, minha ex-mulher mudou-se para Campo Grande, os meninos entraram para a escola. Fui visitá-los e Daniel naquele dia demorou para o almoço. Quando entrou em casa estava "pê" da vida. Tinha feito alguma transgressão e a diretora o prendeu... na biblioteca. Naquela escola, a biblioteca era sinônimo de punição. Castigo? Biblioteca! Bibliotecas são lugares de prazer, convívio, leitura, diversão, devedês, cedês, teatro, música, computador, paquera, tudo o que agita o mundo. Nada de solenidades. O espaço da Biblioteca São Paulo, estatal, repousada sobre um verde luminoso, dissolverá os fluidos deixados pelo presídio. Bela ideia a de aproveitar o lugar, imenso, agora aconchegante, dirigido por Magda Montenegro. Escritores mesmo vi poucos na inauguração: Celso Lafer, Jorge Caldeira, Fernando Henrique Cardoso, José Gregori. Megalivreiros como Samuel Seibel e Pedro Herz. Acrescento Nina Horta com seus livros deliciosos, além dos canapés que ela serviu. O de papoula, ah, meu Deus! Tomara servissem todos os dias. Bibliotecárias vieram de Sorocaba, Batatais e outras cidades. E o Luis Alves, da editora Global, o Hubert Alquéres e o Carlos Haddad da Imprensa Oficial, o Goldfarb, que comanda o Jabuti (vai dar um Jabuti para a nova biblioteca?), a Roseli, da Câmara Brasileira do Livro, a Mona Dorf ? tão lindinha ?, que tem programa de literatura na internet (Letras e Leituras www.letraseleituras.com.br). Livros e biblioteca foram a festa no começo da semana, tomara continuem a ser pelo ano, pela vida. Alguém veio me perguntar se concordo com que moradores de rua possam retirar livros. Sim, se quiserem, também eles têm o direito de ler. E se roubarem? Povo não rouba livro, respondi, em geral quem rouba é intelectual e estudante universitário duro. Já dei muito livro a morador de rua aqui na João Moura. Dei até óculos. Tinha um que lia e relia a Bíblia, devia saber de cor. Dei a ele John Updike, Antonio Torres, Menalton Braff, Luiz Ruffato, Márcia Denser, Joca Reiners, Ivana de Arruda. Adorou. Quem conhece Brasília sabe que ao longo da W 3, que atravessa a cidade, os pontos de ônibus abrigam as estantes do centro cultural T Boné, com centenas de livros. Você apanha, leva, devolve outro dia, em outro ponto. As estantes ficam abertas dia e noite. Ninguém rouba, ninguém destrói. Acreditemos no povo.
(Ignácio de Loyola Brandão Publicado originalmente : O Estado de S. Paulo - 12/02/2010)