Certa vez declamei para alguém O teu riso. Foi para alguém de belo sorriso, singelo, verdadeiro e tímido. Não gostava de sorrir, o que era um verdadeiro desperdício de "não sorrisos". Poderia contemplá-los por horas se o distribuísse para mim ou para qualquer outra pessoa, o que era de uma contradição inexplicável devido ao fato das histórias, frases ou tiradas que inventava que sempre fazia explodir em risos quem estivesse ouvindo. (Não posso me queixar de não vê-lo sorrir, tive o privilégio de ganhar alguns e até mesmo de eternizar outros.) Engraçado, muito engraçado, mas guardava uma tristeza que nem nas confissões, ou desabafos, feitos para mim consegui decifrar. Por mais que pensasse em possíveis razões, causas ou conflitos a aflingi-lo, jamais cheguei a deduzir quais seriam tais fontes de tormento, a não ser talvez por sua anciedade, sua impaciência disfarçada, sua volúpia em querer mais. E isso tudo me retorna neste momento enquanto leio, falo e penso sobre o riso. Sobre o riso verdadeiro, a satisfação do riso. Ando meio que rindo à toa! ;) O que me faz perceber que realmente - frase que li, não sei onde e não sei quando - " de tudo o que possuis, o teu riso é o que mais te valoriza"! Que pessoa não fica mais feliz quando ganha um sorriso, ou que dia não fica mais bonito? Qual mau humor não vai embora, ou que preocupação não se dilui ao menos por uns instantes? Se passo alguns dias sem ver um sorriso fico entristecida, me entristeço também por notar que ando rindo pouco, aliás, pouquíssimo, porém sempre elogio quando vejo um, quem sabe com um incentivo as pessoas riam mais, inclusive euzinha que às vezes fico meio sisuda, mas apesar disso amo sorrisos, amo dar risada, amo gargalhar até doer a barriga, não tem prazer mais fácil, amigável e barato de se conquistar porqueo sorriso só depende de cada um, não é preciso esperar pelo outro para sorrir. Sorrio sozinha na rua às vezes, penso que devo parecer meio louca, ou totalmete, vai saber! uma pessoa de humor instável, mas deve ser assim mesmo. Afinal hoje é sexta-feira, dia de começar a rir de bobeira, de graça e sem compromisso. Ultimamente tenho passado algum tempo do meu dia a pensar e coisas assim me veem a mente e só. Mas nunca me tires o riso, qualquer riso, o meu riso, porque então morreria!
O teu riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
0 comentários:
Postar um comentário
Bem vindo! Deixe seu comentário aqui.